sexta-feira, 3 de julho de 2009

Novo Acordo Ortográfico

Finalmente tive coragem de escrever sobre o tema que há tanto tempo me angustia.

Se “pensar” com a alma não concordo nada com o Novo Acordo Ortográfico. Se pensar com o cérebro não discordo tanto e entendo-o. A primeira coisa que se faz quando não se gosta de uma ideia é pô-la de lado como se ela não existisse e não a tentar conhecer. Eu fui à busca de conhecimento e desde ontem que estou mais esclarecida quanto ao Novo Acordo Ortográfico. Não mudei a minha opinião, moldei-a. Mas... há sempre muitos “mas”.

A realidade não vai mudar por minha causa, portanto eu tenho duas hipóteses:
- Discordar até dizer chega e em 2012 escrever com erros
- Discordar na mesma mas saber como tenho de escrever, praticar, adaptar-me, ou seja, dar o salto.

Agora, aspectos que realmente interessam e me intrigam. Ontem, por parte de especialistas na área ouvi dizer que:

- É uma forma de facilitarmos a aprendizagem, ou seja, que é mais fácil uma criança aprender as palavras sem o C antes do T. Não concordo e penso que é um argumento que só serve para “ganhar” adeptos. Quando aprendemos o nosso cérebro está fresco e fixa a maneira como cada palavra é escrita. Não se trata de ser mais uma letra ou menos, não é uma letra a mais ou uma letra a menos que vai influenciar a aprendizagem das palavras. O nosso cérebro faz o esquema mental assim que aprendemos como se escreve, e ao fixarmos em que palavras temos que colocar o C antes do T já não teremos qualquer problema porque já temos aquela “forma” na cabeça. Em caso de dúvida, há dicionários (o próprio Word tem dicionário) que podem e devem ser consultados. E mesmo que fosse mais difícil eu não acho que seja a facilitar que se preparam as pessoas para o futuro. Acho que facilitar só estraga.

- O Novo Acordo Ortográfico apenas afecta a grafia da escrita e não interfere de modo nenhum nem nas diferenças orais, nem nas variações gramaticais ou lexicais. Também não concordo. Toda a gente sabe que a maneira como se escreve, mais tarde ou mais cedo vai influenciar a maneira como é dito. Palavras como “lêem” vão perder o acento circunflexo.

- Palavras como “asteróide”, “heróico” e “espermatozóide” vão deixar de ser acentuadas. Repare-se que formas semelhantes como “comboio” e “dezoito” já não tinham acento. Até tem o seu motivo. Mas não vamos desculpar-nos com isso, porque até podia ser visto de outra maneira, pois já que então “asteróide”, “heróico” e “espermatozóide” têm acento poderíamos colocar acento em “comboio” e “dezoito”. Isto depende muito da maneira como cada um fala. Questionem-se “como é que digo dezoito?” há muita gente que acentua desta forma “dezôito” oralmente. Pessoalmente “asteroide” sem acento dá-me uma certa apetência para lhe dar um toque americanizado “azzzteroide”. Eu acho que a nível de oralidade vai haver uma salganhada brutal, e o analfabetismo vai aumentar.

- “Facto”, ao contrário do que eu pensava, não vai sofrer alterações porque nós pronunciamos o C antes do T portanto ele tem de estar lá. Ao menos, uma coisa boa.

- “Amígdala”, “amnistia”, “aritmética”, “omnívoro”, “subtil” são exemplos de mais palavras que irão manter-se como estão. Porque mais uma vez pronunciamos cada letra de cada palavra.

- Incluir-se-ão três novas letras no alfabeto português. “K”, “W”, “Y”. Nada que já não fizéssemos na prática (falo dos estrangeirismos e não das mensagens de telemóvel), mas agora passa a ser oficial.

- Outra razão é de âmbito lusófono e internacional. Passamos a ter ortografia comum em 8 países, tais como Portugal, Brasil, Cabo Verde, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor Leste. Pessoalmente, com pessoas do Brasil, da Guiné e de Cabo Verde nunca me desentendi. Quando vamos à França ou à Alemanha também nos desenrascamos. A parte boa será um escritor português poder ser mais divulgado por esse mundo fora? Isto pergunto, porque sinceramente não sei mesmo, é uma dúvida que tenho.

Agora eu questiono-me acerca de uma área que me interessa particularmente. Se tudo isto é muito bonito na teoria, também o irá ser na prática? O Estado tem dinheiro para renovar/ actualizar as colecções das demais bibliotecas pelo país inteiro? O que vai acontecer a todo um património documental? Onde vai ser guardado? Vai ser atirado aos rios? O que vai acontecer aos livros que servem para prestar informação actualizada? Como vão as bibliotecas satisfazer a população para quem trabalham? Ou se muda, ou não se muda… mas será mesmo assim na prática?

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